segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Glória Perez fala sobre o câncer e o fim de Caminho das Índias

Autora conta como enfrentou o desafio de escrever os capítulos da novela enquanto fazia quimioterapia.

Durante nove meses, personagens povoaram a imaginação e fantasia dos brasileiros. E agora, na última semana de "Caminho das Índias", todo mundo quer saber: Com quem vai ficar Maya? Com Raj ou Bahuan? E a Norminha? Volta para os braços do guarda Abel?
Patrícia Poeta conversou com a mulher que tem todos os segredos dos últimos capítulos de Caminho das Índias e que construiu toda essa história, à custa de muito sacrifício.
A autora de "Caminho das Índias”, Glória Perez, conversou com exclusividade com Patrícia Poeta para o Fantástico. Veja a entrevista:
Fantástico - Têm surpresas vindo por aí?
Glória Perez - Tem. Tem muitas surpresas. As pessoas quando assistem uma novela, sempre compõem uma história. Elas sempre querem conduzir a personagem para um determinado lugar. No Brasil, todo mundo é um pouco técnico de futebol e escritor de novela.
Falando de alguns personagens, a Norminha, por exemplo. Você imaginava que ela fosse ser esse sucesso todo, ficasse tão popular e tivesse esse espaço na novela?
Olha, eu queria uma mulher bem popular. A Norminha tem o comportamento que um homem que trai geralmente tem. Ele é de todas as mulheres do mundo, mas ele preserva a casa dele e a mulher dele. Não existe uma Norminha, sem Seu Abel. Seu Abel é aquele homem que gosta daquela mulher como ela é. Ele está muito chateado. Ele deixou de ser feliz. Ele era muito feliz.
Temos ouvido falar nas ruas que o Abel volta para Norminha. É isso mesmo?
E tem graça se não voltar? Onde é que ele era feliz? Só Norminha. Torcida não falta.
É verdade que o Bahuan, que passou de mocinho a quase vilão, por causa dessa química entre a Maya e o Raj?
Antes da química, por conta do desvio dos valores, ele opta pela riqueza, pelos valores, pela posição, e não pelo amor. Quanto à química da Maya com o Raj, graças a Deus que rolou. Porque nós íamos falar e uma coisa muito indiana, da construção do amor.
É verdade que o pessoal para você nas ruas, pedindo para que os dois fiquem juntos no final da novela?
Sim, são cartas e mais cartas. Eles falam que é o casal mais lindo que eles já viram. Existe uma coisa meio de conta de fadas entre os dois, É um romance idealizado, talvez aquele que amor que as pessoas gostariam de ter.
Dá para dar uma pista pra gente do que pode acontecer nos próximos capítulos envolvendo os três?
Vamos ter encontros decisivos de Maya com Bahuan. Vamos ter a decisão sobre a criança. A decisão sobre o destino de Maya.
E quanto às expressões indianas, você já se surpreendeu falando essas expressões em casa?
Eu falo normalmente. E acho ótimo ver as pessoas falando nas ruas, porque você sente que a novela está incorporada à vida delas.
Poucos meses depois da estreia da novela, Gloria Perez levou um grande susto: descobriu que estava com linfoma - um tipo de câncer que ataca os linfócitos, as células brancas do sangue. E que era necessário fazer uma quimioterapia.
Quando você ficou sabendo, mexeu com você, o que você sentiu?
Mexe porque quando você fica sabendo, o que você tem na cabeça quando alguém diz que é maligno é a palavra câncer. Ainda tem um peso muito grande, não é? Eu fui ao médico, eu sentei diante dele, não tive nem tempo de fazer a pergunta, ele falou você quer saber quanto tempo você tem de vida, né? Eu falei: claro. Aí ele disse: com o que você tem, você tem tanto tempo de vida quanto teria se não tivesse isso. Aí eu fiz a segunda pergunta: eu tenho um trabalho que é assim, são tantas horas por dia, eu escrevo sozinha uma novela, então eu quero saber: eu vou ter condições de continuar esse trabalho? Aí, ele disse: não só você deve continuar fazer, como é importantíssimo para o seu tratamento que continue a fazer.
A partir daí você fez as seis sessões de quimioterapia, a última delas foi na semana passada.
Enquanto eu fazia quimioterapia eu escrevia capítulo. Tinha um advogado do lado, que resolvia os problemas do escritório por telefone. Tinha um professor do lado, que resolvia a palestra que ele ia dar um dia, em uma universidade. Então, eu via todas aquelas pessoas ali, à minha volta, trabalhando também. Não era eu uma coisa única, nem rara.
É impressão minha ou você colocou um pouquinho dessa sua história agora nos últimos capítulos da novela?
Coloquei. Coloquei uma chamada como alerta. Apesar de ser um tipo de câncer, ele é praticamente inteiramente curável se você fizer o tratamento certo e descobrir logo.
Foi o que aconteceu com você.
Mas é por isso que é importante e eu botei a chamada, que quando a pessoa diz assim: ah, é uma inguazinha. Ah, não, é um gangliozinho que inflamou, e toma qualquer coisinha achando que passa, ou então espera que passe sozinho. Vai no médico, porque de repente é uma coisa dessa, você faz um tratamento e acabou. Está livre do assunto para sempre.
Como é que está o seu estado de saúde hoje? Como é que você está se sentindo?
Estou me sentindo maravilhosa. Porque eu fiz a última quimioterapia e está tudo bem. Acabou o assunto.
O que chamou realmente a minha atenção nas vezes que a gente se falou, que eu liguei para você para gente marcar a entrevista, todas as vezes que eu liguei pra você, você atendeu o telefone com uma voz firme, segura, eu acho que mais do que isso, uma voz animada.
Mas eu sempre estive assim.
Pois é. Isso é impressionante. Então, quer dizer, a gente conhece um pouquinho da sua história, sabe que você passou por momentos difíceis e agora com esse tratamento esse tratamento esse ano, de onde vem essa sua força incrível, Glória?
Eu acho que você começa a ter essa força, a ficar forte diante das situações, quando você não as nega. Quando você aceita a realidade como ela vem. Algo aconteceu. Você está com um linfoma, você vai fazer uma quimioterapia.
Então você tem duas opções: ou vai para casa chorar e perguntar por que isso te aconteceu? E isso te enfraquece. Ou você diz: isto me aconteceu e como é que eu vou enfrentar? Melhor. Eu opto sempre por essa.

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